15.10.06

Cospe pra cima...

Estava relendo os meus posts, porque hoje mencionei o texto da Marianne Williamson pra uma amiga e depois resolvi entrar aqui e fazer uma retrospectiva. E então eu vi como as minhas opiniões mudaram de algum tempo pra cá. Não estou falando daquele post (what is your deepest fear) especificamente, pois continuo concordando com ele em gênero, número e grau. Falo de outros.

É claro que é razoável dar um desconto a posts escritos em horas de muita dor, porque tendemos a ficar mais radicais mesmo. A dor nos consome e a visão fica ofuscada. Mas tem muita coisa que eu escrevi e agora fico olhando e pensando: nossa, eu mudei mesmo.

Sei que essa mudança foi uma coisa assustadora. Lembro de mim sentada em mesas de bar, com pessoas variadas, simplesmente sem abrir a boca. Porque às vezes não tinha vontade mesmo, preguiça, insegurança, exaustão. Mas isso aconteceu MUITAS vezes. E tem coisas que fazem parte da sua essência. Elas podem ficar adormecidas, diminuir de intensidade, mas sempre estarão lá. Eu sempre fui a alma da festa, aquela pessoa divertida, contadora de piada, centro das atenções. E sempre gostei disso. E, de repente, como se tudo o que eu tivesse de meu se tornasse um veneno, eu abandonei a minha essência. E fiquei em um canto, olhando de longe, pra ver o que prestava e o que não prestava em mim. E o fato de eu ser alegre, expansiva e não levar desaforo pra casa foi uma dessas coisas, que eu deixei lá dormindo e agora andei tirando a poeira, vendo aflorar de novo. Naturalmente, sem pressão. E eu me dei conta disso há uns dias, quando estava fazendo a engraçadíssima and it hit me.

Essa coisa de não levar desaforo pra casa é uma forma ilustrativa de falar sobre o quanto fui desrespeitada por quem estava próximo de mim e deixei passar. Não simplesmente porque não importava, mas porque eu acreditava merecer, REALMENTE. Achava que tinha que expiar meus pecados, pagar pelo que tinha feito, perdi a capacidade (ou a vontade?) de me defender. Me lembro de momentos em que fui verbalmente agredida por pessoas muito importantes pra mim e saí andando, catatônica, ou simplesmente absorvi toda aquela energia podre e fiquei quieta. Obviamente, quando comecei a me "recuperar" dessas coisas, passei por outra fase: primeiro eu ouvia tudo e ficava quieta, depois tinha um acesso de choro de raiva, me sentindo uma sem noção por não me defender. Agora simplesmente eu escuto, pondero pra ver se tem fundo de verdade, e, tendo ou não, você escuta o que eu acho que tenho pra dizer. Pode até ser um reconhecimento da minha (lá vem ela) culpa, mas eu não saio andando se achar que tenho algo pra dizer. E, convenhamos, a sabichona SEMPRE tem algo a dizer. Só não diz quando acha que não vale a pena. Porque também gastar boa vela com mau defunto, meu bem, não tem nada a ver.

Mas voltando a cuspir pra cima, o que mais me chamou a atenção foi um post que escrevi sobre solidão. Me chama a atenção porque eu me lembro do estado de espírito em que estava quando o escrevi. Realmente estava revoltada com o fato de estar só. Revoltada porque achava que não tinha a ver, revoltada porque não acreditava no conceito de estar só. Porque precisava constantemente estar me doando pra tentar me validar por meio disso (triste, eu sei). Dia desses eu encontrei a Janine, que me trouxe ao meu vocabulário uma nova analogia: quando o avião perde pressão de cabine (aliás, assunto em voga nos últimos tempos), o que você faz? Coloca primeiro a sua máscara ou a dos outros. Eu SEMPRE coloquei a máscara dos outros primeiro. E eu que me danasse. Colegas, (in)felizmente aprendi a colocar a minha máscara primeiro. E comecei a acreditar (não só acreditar, mas gostar) da vida sozinha. Em termos práticos, você passa a ter as contas de um só pra pagar, uma só passagem de avião para aquele lugar incrível, uma só pessoa pra vestir, pra alimentar, pra cuidar. Lógico que tem o seu lado ruim, de não poder dividir momentos incríveis, não ter alguém do seu lado pra quem você olhe e fique embevecido, achando que aquela é a pessoa mais linda do mundo e pensando o que você você pode ter feito de tão bom pra merecer tamanha felicidade... lado do qual eu sinto muita saudade, mas me recuso a fabricar simplesmente pra ter alguém pra amar. relações que começam baseadas em nada trazem amores vazios. Rush de adrenalina não é amor. Amor é respeito, amor é preocupação, amor é poupar o outro de coisas ruins, não expor o ser amado pra tentar se validar. Isso é covardia. Medo, medo de amar, medo de enfrentar uma vida adulta, medo de ter que bater no peito e assumir. Medo de tomar decisão. Porque quando você opta pelo creme brulee, você tem que deixar a torta de chocolate de lado. E quando você opta por um dos dois, a sua dieta sofre. Então pára de ter medo, coloque seus sentimentos (e pensamentos) no lugar e lute pelo que realmente vale a pena. E ficar sozinha??? É ok. Ruim sim, porque viver na pendura sexual ninguém merece (e não me venha com sexo casual, porque neste caso, I'm not a believer). Mas não se pode ter tudo, não é mesmo? Tem mulher que transa todo dia e não tem sapatos incríveis no closet. Eu tenho. Detalhe: e os sapatos incríveis ainda estão lá pela manhã. Que é muito mais do que se pode dizer dos amores vazios.

Mudei. Mas não foi pra melhor?

3 comentários:

Anônimo disse...

Ufa! Descarregou, hein?
Exorcizou parte dos fantasmas, não?
Tá mais leve agora?

DJ Chan disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Kimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Adoroooooooooooo
acordar com os sapatos foi a melhor hahahahahahaha
to rindo muuuuuuuuuuuuuito
to te mandando as fotos
beijocas
chandrinha