13.10.05

Shaná tová pra você também

Hoje acabou a maratona das grandes festas judaicas. Eu venho de duas semanas cantando uma média de 6 horas por dia. Não aguento mais. Meu corpo e minha voz estão pedindo arrego. Sem contar o meu paycheck, que vai emagrecer monstruosamente por causa das duas semanas não trabalhadas. Mas há o lado bom disso tudo.

Quem me conhece sabe que eu sou uma cética convicta no que diz respeito à religião. Fui criada como católica, cansei de frequentar a igreja, sei os mandamentos de cor, mas quando construí minha opinião sobre a religião, o tiro saiu meio que pela culatra. Acho que Deus é uma invenção humana para diminuir a sensação de impotência frente a coisas inexoráveis, como a morte. E essa crença é amplamente explorada por religiões, que são a forma de dominação mais efetiva da história da humanidade. Com tudo isso, eu sou louca por música sacra (go figure...), mesmo sabendo que a maior parte das peças sacras foi encomendada e (bem) paga aos grandes compositores, sem ter preconceito de obras como o Requiem de Brahms, que usa o texto protestante, que eu adoro, da mesma forma que adoro grandes missas, cantando o Agnus Dei do Requiem de Verdi a plenos pulmões e me emocionando com a grandiosidade da música.

Com esse amor à música e respeito (além de admiração) pela música sacra, tenho que dizer que tive momentos sublimes durante as grandes festas judaicas. Não conhecia praticamente nada do judaísmo, a não ser a parte do velho testamento, que é praticamente igual para judeus e católicos. Muito menos de hebraico. Nunca tinha passado pela minha cabeça que Adonai era Deus. Com toooodo esse preparo, aceitei o convite do maestro para cantar nos serviços.

A música judaica tem forte influência oriental, o que me fez suar muito pra conseguir ler à primeira vista, pois estranhei muito a harmonia. Penei dia e noite pra aprender umas 50 músicas em um mês, com letra em hebraico e umas partituras em que não se lia nada. Onde se lia e estava escrito uma sílaba como voi, eu tinha que ler tot, coisas assim. Samba do crioulo doido. Mas eu não esperava que fosse me tocar como me tocou. Não sei se foi a cultura, se foi o serviço cantado, só sei que em alguns momentos fiquei com os olhos cheios de lágrimas, grata por ser parte tão pequena de uma celebração que para mim não dizia nada, mas elevava a alma de quem estivesse ouvindo. E a minha, de quebra.

Foram horas de cansaço, tons caindo pra sempre, músicas acabando meio tom abaixo de onde haviam começado, jornadas cantadas de 6-8 horas. Mas valeu a pena. Se bobear, ano que vem estou lá de novo.

E ainda ganhei um pacote de Ferrero Rocher.

Shaná tová.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, será q vc pode me enviar umas partituras de música hebráica.
meu email é lidiacnc@hotmail.com
te agradeço muito

Lídia